Quando “Não Olhe para Cima” estreou na Netflix, no dia 24 de dezembro, parte da audiência brasileira foi rápida ao associar a história do filme à gestão da pandemia da covid-19 feita pelo governo Bolsonaro. Os personagens de Leonardo DiCaprio (o professor Dr. Randall Mindy) e de Jennifer Lawrence (a estudante de astronomia Kate Dibiasky), por exemplo, foram comparados aos biólogos Átila Iamarino e Natália Pasternak, e a forma displicente como a presidente Orlean (Meryl Streep) e seu filho, Jason (Jonah Hill), lidam com a ameaça do cometa, foi associada aos tratamentos ineficazes propostos inicialmente por Jair Bolsonaro (PL) e pelo Ministério da Saúde contra o vírus.
Para compor seu personagem, Leonardo DiCaprio se inspirou em ativistas e cientistas da vida real —sobretudo, segundo ele, “pessoas da comunidade científica que lutam para comunicar a urgência da questão [ambiental] e estão sempre sujeitas às últimas páginas dos jornais.” Em entrevista coletiva, o vencedor do Oscar por “O Regresso” (2015) chegou a comparar a personagem de Lawrence à ativista sueca Greta Thunberg.
A causa ambiental, aliás, é uma luta do ator que já o colocou em rota de colisão com o presidente Bolsonaro mais de uma vez antes do filme de Adam McKay chegar às telas da gigante do streaming. Se, para muitos, o longa serve como uma metáfora sobre o combate à covid-19, as “desavenças” diretas entre Bolsonaro e DiCaprio estão ligadas à Amazônia e às queimadas.
Como tudo começou?
Em 2019, DiCaprio criticou profundamente as queimadas na Amazônia em suas redes sociais. Na época, o ator foi apontado como doador de uma quantia para a ONG WWF. A investigação da polícia seguia a linha que brigadistas da região de Alter do Chão, no Pará, provocavam incêndios e vendiam imagens para conseguir doações. Os quatro brigadistas em questão foram presos. No dia 28 de novembro daquele ano, o presidente Jair Bolsonaro acusou o ator, em uma live, de ter doado o dinheiro para incentivar os incêndios criminosos. Na ocasião, o Chefe do Executivo apontava as organizações não-governamentais que receberam as doações como autoras de fogos ilegais. “O pessoal da ONG, o que eles fizeram? O que é mais fácil? Botar fogo no mato. Tira foto, filma, a ONG faz campanha contra o Brasil, entra em contato com o Leonardo DiCaprio, e o Leonardo DiCaprio doa 500 mil dólares para essa ONG. Uma parte foi para o pessoal que estava tocando fogo, tá certo? Leonardo DiCaprio tá colaborando aí com a queimada na Amazônia, assim não dá”, declarou.
Fonte: http://www.uol.com.br