Decisão do ex-presidente surpreende a classe política, expõe fragilidades de pré-candidatos e reposiciona o tabuleiro eleitoral da direita.
Por Márcio Prado Peninha
A escolha de Flávio Bolsonaro (PL) como candidato do campo bolsonarista, anunciada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, surpreendeu grande parte da classe política. A aposta majoritária era de que Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, seria o nome indicado para disputar o Palácio do Planalto.
Apesar da impressão de decisão “fechada” no clã Bolsonaro, a escolha tem forte componente pragmático.
Antes de qualquer conclusão, é preciso observar o tabuleiro político atual. Há diversos pré-candidatos de centro e direita, todos sustentados por grupos que disputam espaço e poder. E, nos bastidores, muitos que publicamente entoavam discursos de apoio à liberdade de Jair Bolsonaro trabalhavam, discretamente, por sua inelegibilidade ou pela manutenção temporária de sua prisão. Em jogo, como sempre, está o Poder com “P” maiúsculo.
Tarcísio de Freitas foi o único a deixar clara sua posição, facilitando a decisão de Jair Bolsonaro. O governador afirmou que, se seu nome não fosse uma escolha unânime da família Bolsonaro, ele não seria candidato. A demonstração de lealdade pesou.
Essa postura abriu caminho para uma decisão que, do ponto de vista estratégico, unifica o eleitorado bolsonarista e reduz riscos internos.
Flávio Bolsonaro, por sua vez, reúne características consideradas fundamentais para enfrentar o instável Centrão: postura mais moderada, longa experiência política, habilidade para escapar de armadilhas e resiliência diante de caciques tradicionais. Tudo isso sem perder a mentoria direta do pai.
Tarcísio, embora bem avaliado, ainda possui pouca quilometragem política e segue cercado por dúvidas sobre sua capacidade de resistir às pressões de bastidores. Soma-se a isso a presença de Gilberto Kassab como figura influente em seu entorno — um fator visto com desconfiança por bolsonaristas.
A prova definitiva será vista daqui em diante: o apoio declarado pelo Centrão a Bolsonaro era real ou apenas jogo de cena? Kassab, considerado um estrategista silencioso, terá papel revelador nesse processo.
O discurso de alguns pré-candidatos, prometendo indulto a Bolsonaro e aos presos de 8 de janeiro, sinaliza uma estratégia mais alinhada ao “kassabismo” do que ao interesse genuíno de aprovar uma anistia ampla, geral e irrestrita antes do início oficial da corrida eleitoral.
Se a candidatura de Flávio Bolsonaro for vista como de alto risco eleitoral contra Lula, dois movimentos podem surgir:
1. O Congresso avança para libertar Jair Bolsonaro, apontado por pesquisas como a AtlasIntel como o único capaz de derrotar Lula; ou
2. O Centrão migra para outro nome — Ratinho Junior, Ronaldo Caiado ou Romeu Zema — tentando se manter competitivo no primeiro turno e deixando para apostar em Bolsonaro apenas no segundo turno, caso necessário.
A fala de Renato Bolsonaro, em entrevista recente, afirmando que Bolsonaro preso não deveria apoiar ninguém, indica a real estratégia em curso: o projeto é ninguém fora do sobrenome Bolsonaro.
E, se essa estratégia colocar em risco o equilíbrio do Establishment, o caminho inevitável será a Anistia.
