Mauá abre comemorações do Mês da Consciência Negra com reflexões e valorização da cultura afrodescendente

Emoção, coragem, resistência e ancestralidade: a mistura que deu certo

A abertura das comemorações do Mês da Consciência Negra em Mauá, realizada na noite desta segunda-feira (10/11), no Teatro Municipal, reuniu centenas de pessoas. Expectativa! Essa é a palavra que sintetiza o sentimento das pessoas que aguardavam o evento ouvindo Música Popular Brasileira interpretada pelo músico Marcelo Balvian, com o embalo da africanidade, “com sorriso no rosto, ginga no corpo e samba no pé.” Na decoração, imagens dos orixás presentes nas religiões de matriz africana, o trono, animais entalhados, flores e os quatro elementos representados.

A sequência foi uma roda para a benção dos Exus e Orixás, para que tudo desse certo, em paz com alegria. “Não digam que vocês não sabem. Muita gente fala de Exu de um jeito errado. Antes de mais nada quero explicar que Exu é o caminho, a estrada, a comunicação, a sorte, a defesa e a proteção. Ele pode afastar tudo o que tem de ruim na vida, a falta de amor, a falta de dinheiro, e concede a sabedoria”, explicou o pai de santo Pai Henrique. “Somos todos irmãos”, afirmou.

Para o secretário de Relações Institucionais da Prefeitura de Mauá, Edilson de Paula, “tem coisas que a gente só constrói com políticas públicas e a organização da sociedade civil. Foram montados oito grupos de trabalho para ajudar a cidade a pensar numa Mauá sem intolerância religiosa, sem racismo, sem preconceito e sem discriminação. Chegamos a este lindo evento por causa dessa participação popular.”

Foram oito grupos, que escolheram a coordenação. compostos por sacerdotes e sacerdotisas; capoeira; mulheres negras; afroempreendedorismo; escolas de samba; ciganos, indígenas e imigrantes; educação; e cultura. Os grupos também traçaram propostas para os segmentos e contribuíram para as atividades, inclusive para organizar as rodas de conversa para debater a resistência e políticas  públicas.

“A luta do povo negro vem de longe. O racismo destrói a vida de um ser humano. As pessoas de pele clara estão conosco e precisamos estar unidos. Podemos divergir, mas a luta contra o racismo não pode ser solitária”, afirmou a militante do movimento negro, Diva Alves. Diva, no auge de seus 80 anos, revela uma vitalidade impressionante na luta contra o racismo.

“Como as pessoas brancas vão saber da nossa realidade? Nós precisamos mudar a cabeça das pessoas. Este evento é importante para isso”, defendeu o vice-prefeito João Veríssimo, cujo pai era negro. Ele lamentou ser lembrado como um dos poucos juízes negros, além do racismo que ocorre contra os jovens. Em seu longo e profundo testemunho, Veríssimo destacou que a luta contra o racismo traz o que se observou no evento, o espírito de resistência.

Uma atividade ecumênica reuniu o pastor Leandro, Padre Edmar e a yalorixá Mãe Solange, que defenderam a paz e a tolerância religiosa, lembrando que as crianças não nascem racistas. Os três líderes religiosos convidaram os presentes para a construção de uma sociedade pacífica, inclusiva e livre do racismo.

Ao longo da cerimônia, foi feita uma homenagem a um dos fundadores da Catira Àz de Ouro e cidadão de grande importância na preservação e valorização da cultura popular, Jaci Cesário, que é símbolo das comemorações deste mês. Familiares de Jaci estiveram presentes.

Uma roda de capoeira comandada por Mestre Del deu início às apresentações culturais. Outra atividade foi uma apresentação de Hip Hop e break, que tirou aplausos empolgados da plateia. A finalização ficou por conta de Mestre Robson Lango, que apresentou vários sambas, a começar pela obra de Jorge Aragão Identidade’.

Crédito das fotos: Evandro Oliveira/PMM

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