Velhas promessas, novos riscos: os dilemas da COP30

Na próxima semana terá início a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que marca a volta do Brasil como país-sede após 33 anos. Os desafios são muitos, tanto para o nosso país quanto para o mundo. Apesar da urgência em alinhar ações concretas, a pauta climática volta a enfrentar um cenário internacional desfavorável e marcado pelo discurso anticientífico.

Mesmo com os esforços já realizados, as projeções indicam que as futuras gerações sentirão de forma mais intensa os efeitos do aquecimento global. Hoje, o calor extremo é a principal causa de morte ligada à crise climática, responsável por cerca de 546 mil óbitos por ano. Estima-se que quem nasceu a partir de 2020 enfrentará sete vezes mais ondas de calor e três vezes mais inundações do que as gerações anteriores.

O atual volume de US$ 300 bilhões anuais em financiamento climático está longe de ser suficiente para conter o avanço do aquecimento global. A atualização desse valor deve ser um dos temas centrais da COP30. No entanto, o cenário internacional é pouco favorável à cooperação efetiva. O boicote de Donald Trump e dos Estados Unidos ao evento representa um duro golpe à agenda climática global, gesto que enfraquece as negociações e dificulta ações concretas, sobretudo vindo de um dos maiores emissores de carbono do planeta.

O dilema do desenvolvimento sustentável permanece no centro do debate. De um lado, estão as nações em desenvolvimento, que ainda carecem de recursos para investir em soluções verdes e buscam avançar em seus processos de industrialização. De outro, as economias avançadas, já consolidadas, seguem ampliando o uso de combustíveis fósseis e flexibilizando mecanismos de regulação do mercado de carbono.

A escolha de Belém como sede da COP30 reforça a centralidade da Amazônia na agenda climática global e abre uma janela de oportunidade para o Brasil recuperar seu papel de liderança ambiental. À beira de um possível ponto de não retorno, provocado pelo avanço do desmatamento ilegal, o país precisa apostar em soluções baseadas na natureza, que unam ciência, saberes locais e políticas sustentáveis, como a restauração florestal, a agricultura regenerativa, o uso de energias limpas e a promoção da justiça climática. No plano interno, persiste o desafio da agropecuária, setor que mais emite gases de efeito estufa, mas que também sofre diretamente os impactos do aquecimento global.

A ausência de potências como China, Estados Unidos, Índia e Rússia tende a enfraquecer a construção de soluções climáticas concretas e o alcance de compromissos globais mais ambiciosos. Sem esses atores à mesa, as negociações perdem parte de seu peso político e financeiro, já que são justamente esses países os maiores emissores de gases de efeito estufa e os que mais influenciam as dinâmicas econômicas internacionais. Por outro lado, esse vácuo de liderança abre espaço para o Brasil exercer um papel estratégico, combinando diplomacia ambiental ativa e credibilidade científica. Em um cenário global marcado por desconfiança, retrocessos e disputas geopolíticas, o país pode se afirmar como mediador entre o Norte e o Sul globais, articulando consensos e reposicionando a América Latina no centro do debate climático.

Por: Pedro Gaspar

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