Por Marcos Brasil
A televisão brasileira vive um momento de transição profunda. Depois de décadas reinando absoluta na casa do público, ela se vê diante de uma geração que não espera mais a hora do programa começar — e que muitas vezes nem tem uma TV ligada. Ainda assim, a força da telinha permanece impressionante. Em um país com desigualdades tão visíveis, o sinal aberto continua sendo a janela principal para milhões de pessoas acompanharem notícias, novelas e esportes. O legado da televisão no Brasil é imenso — mas o futuro exige reinvenção.
Enquanto plataformas de streaming se multiplicam e redes sociais se tornam palco para narrativas instantâneas, as emissoras tradicionais enfrentam o dilema de equilibrar o clássico e o contemporâneo. Não basta mais ter uma boa novela ou um reality show de sucesso: é preciso estar presente em todas as telas. A TV que antes ditava tendências hoje precisa ouvi-las, acompanhar o ritmo das transformações e dialogar com o público em múltiplos espaços digitais.
Colunistas especializados, como Daniel Castro e Nilson Xavier, lembram que essa metamorfose vai além da tecnologia: trata-se de um novo comportamento. O espectador não é mais passivo. Ele comenta, compartilha, critica e até influencia o rumo de produções. A televisão, antes centro da sala, agora disputa atenção com o celular no bolso e o vídeo curto nas redes. Nesse cenário, ganha quem entende que o “ao vivo” ainda é ouro — seja em transmissões esportivas, debates ou realities — e quem aposta na identidade nacional como diferencial.
A TV brasileira tem uma herança poderosa: é criativa, popular e próxima do público. Mas precisa abandonar a zona de conforto. Inovar não significa destruir o passado, e sim adaptar-se a novos formatos, linguagens e ritmos. O público quer conteúdo relevante, diversidade de vozes e histórias que reflitam o Brasil real — aquele que se reconhece na tela, mas também deseja ser surpreendido.
O futuro da televisão não será uma repetição do ontem. Ele será híbrido, conectado, plural — e dependerá da capacidade de cada emissora de compreender que o poder da imagem só sobrevive quando dialoga com o tempo em que vive.
