Presidente defende aumento da produção e acordos comerciais com os EUA e o Sudeste Asiático, mas cenário interno ainda desestimula a indústria e os investimentos de longo prazo
Na reunião empresarial Brasil–Malásia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou:
“Nós queremos produzir mais no Brasil, queremos que o Brasil seja um país que produza mais, que tenha mais empregos, que tenha mais renda, que tenha mais riqueza.”
A fala, feita durante coletiva com empresários e representantes internacionais, reforça o tom otimista do governo brasileiro em relação à ampliação da produção nacional. No entanto, a realidade econômica e estrutural do país ainda impõe barreiras significativas à concretização desse objetivo.
Curto prazo x longo prazo: o dilema do mercado brasileiro
O mercado brasileiro continua acostumado a perspectivas de curto prazo, vivendo sob a tensão diária da falta de previsibilidade econômica.
Mesmo quando o discurso ganha ares de pragmatismo, os empresários seguem movidos mais por crença do que por planejamento, em busca de um oásis no deserto econômico.
Na prática, são os micro, pequenos e médios empreendedores que formam o esqueleto do chamado “mercado”, mantendo a engrenagem produtiva ativa mesmo diante da alta carga tributária e da insegurança política.
Encontro com Donald Trump e acordos comerciais
Durante a coletiva em Kuala Lumpur, Lula comentou seu encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e demonstrou otimismo em relação a um acordo comercial para redução de tarifas.
Segundo ele, Brasil e EUA “chegarão rapidamente a um acordo definitivo” que reduzirá em 50% as taxas sobre produtos brasileiros.
Atualmente, as tarifas comerciais estão em 10%, enquanto os 40% restantes correspondem a sanções que podem não entrar na negociação.
Lula também destacou a parceria com os países da ASEAN (Sudeste Asiático) e defendeu o multilateralismo, ressaltando que o acordo poderá ampliar a presença das exportações brasileiras no mercado global.
Competitividade e política de Estado
Ao afirmar que quer um Brasil “que produza mais e tenha mais empregos”, Lula toca num ponto essencial: a competitividade.
Mas o desafio é definir se o governo busca apenas retomar a capacidade produtiva atual ou tornar o país realmente competitivo, capaz de exportar mais produtos industrializados, e não apenas commodities.
Para atingir esse patamar, investimentos em infraestrutura, redução da carga tributária e incentivo à industrialização são passos indispensáveis.
Essas medidas, no entanto, precisam estar integradas a uma política de Estado duradoura, capaz de sobreviver a diferentes governos e ideologias.
O caminho do governo e o peso da máquina pública
Com mais de uma dezena de impostos criados ou ampliados, o atual caminho adotado pelo governo não sinaliza alívio para o setor produtivo.
Enquanto articula no Congresso novas fontes de arrecadação, a máquina pública segue pesada e cara, reduzindo a capacidade de investimento e desestimulando o capital produtivo.
O mercado brasileiro segue servindo aos investidores de curto prazo, os mais pragmáticos, quando poderia ser um terreno fértil para atrair produção estrangeira, gerar empregos e fortalecer a indústria nacional.
Para isso, é preciso tornar o custo-Brasil mais competitivo — e transformar o discurso político em ação econômica sustentável.
Por: Márcio Prado – Peninha
Jornalista – MTB 60608-sp
