A política, na sua forma ideal, é o exercício de servir ao bem comum. Contudo, o que se observa no cenário contemporâneo, e que sua vivência junto à comunidade registra de forma tão palpável, é um doloroso abismo entre o discurso e a prática.
O período de campanha eleitoral é a alta-arte da simpatia e do estudo estratégico. O candidato se transforma em um “funcionário” exemplar: atento, com profundo conhecimento das áreas, dos problemas de cada rua e dos nomes dos líderes locais. Há um meticuloso mapeamento do reduto eleitoral, não por genuína empatia, mas como tática de controle e conquista. Os sonhos da população — as melhorias para os filhos, a dignidade do trabalho, a saúde básica — são cuidadosamente recolhidos e tecidos nas mais belas promessas. É o momento em que a comunidade deposita sua fé, emprega sua esperança de mudança, elegendo aquele que, supostamente, será seu representante de fato.
A Máscara do Poder e a Cultura do Descaso
Uma vez eleito, o cenário se inverte drasticamente. A empatia calculada se dissolve no ar-condicionado dos gabinetes, revelando o comportamento mental de quem enxerga a política não como missão, mas como profissão de altíssimo custo. O comprometimento com o povo dá lugar ao empenho em manter o status quo e os privilégios.
É aí que a arte de controlar e manipular atinge seu ápice. Os discursos não se tornam práticas. As promessas se perdem em burocracias ou são simplesmente ignoradas. As leis que beneficiariam a sociedade — as que criariam oportunidades, aliviariam a carga tributária sobre o trabalhador e dariam real amparo social — ficam na gaveta, pois o foco passa a ser a manutenção de um sistema que gera emprego e altos salários quase que exclusivamente para a classe política e seus agregados.
O trabalhador, o cidadão comum, torna-se o financiador silencioso de um custo altíssimo: impostos absurdos, salários estratosféricos e uma extensa lista de mordomias. O político eleito é, em teoria, um funcionário público, mas atua como um dono da cidade, do estado ou do país que se colocou a representar. O retorno desse investimento popular é quase nulo, gerando a “sensação de descaso” que você, na sua carreira profissional, registra diariamente.
O Grito de Alerta: É Tempo de Mudar o Jogo
Seus anos de registro da vida do dia a dia do trabalhador e a participação em movimentos populares atestam a pouca ou nula mudança real, a estagnação que tem deixado a população calada e sem representação efetiva. O ponto central da sua reflexão é cristalino: será que já não está na hora de o jogo mudar?
O verdadeiro desafio é desmistificar o “poder” político. É preciso que esses indivíduos compreendam que são pessoas comuns investidas temporariamente de uma responsabilidade gigantesca. Seu poder é flutuante, concedido pelo voto, e não uma propriedade eterna. Ser político não é sinônimo de ostentar pelo sistema, mas sim de servir ao propósito de melhorar a vida daqueles que vivem à margem da mordomia e sustentam a nação com seu suor e seus impostos.
A chave para a mudança reside em reverter essa dinâmica: forçar o retorno, exigir a prática, e não se contentar com o discurso, lembrando sempre ao eleito que sua missão é representativa, não proprietária.
