1970: A Sombra da Mafia e a Ostentação Silenciosa


​O ano de 1970 tinha um cheiro diferente, um cheiro de asfalto quente e promessas sussurradas. Naqueles dias, a corrupção e a ostentação não gritavam nos telhados; elas se esgueiravam em carros importados e mansões de tijolinho à vista. A máfia, a velha e respeitável Máfia, operava nas sombras, com seus códigos de honra e vingança. As famílias dominavam bairros inteiros, não com posts em redes sociais, mas com a lealdade comprada e o medo silencioso.
​A ostentação da época era mais discreta, quase um segredo. Um terno de corte impecável, um relógio suíço escondido sob a manga, um anel com um brilho discreto, mas de um valor incalculável. O poder não estava em mostrar, mas em ter. As festas aconteciam em salões fechados, onde o uísque corria solto e os acordos eram selados com apertos de mão e olhares significativos. A corrupção, por sua vez, era um jogo de xadrez: um suborno aqui, uma ameaça sutil ali, um favor que seria cobrado no futuro. O dinheiro passava de mão em mão, em envelopes, e a justiça, muitas vezes, era um espetáculo teatral.
​2025: O Espetáculo da Ostentação e a Corrupção Desavergonhada
​Cinquenta e cinco anos depois, 2025. O mundo mudou, mas a essência do poder e da corrupção permanece a mesma, só que agora, ela usa roupas de grife e se exibe em vídeos de um minuto. A máfia de hoje não tem nome de família italiana, mas de empresas fantasmas, de esquemas virtuais, de influenciadores que vendem uma vida perfeita enquanto operam na ilegalidade.
​A ostentação, agora, é um show. Não basta ter; é preciso filmar e publicar para o mundo ver. Carros de luxo, viagens em jatinhos particulares, relógios cravejados de diamantes – tudo é um palco para a vaidade. O poder é medido em curtidas e seguidores. A nova máfia não precisa de violência física, pois a pressão social e a humilhação pública são armas mais potentes. Eles não operam nas sombras; operam na luz, bem debaixo do nosso nariz, financiando campanhas, manipulando a opinião pública e se camuflando como cidadãos respeitáveis.
​A corrupção de hoje é um sistema complexo, uma teia de interesses que se estende do virtual ao real. Envelopes foram substituídos por transferências bancárias e criptomoedas, e a justiça, muitas vezes, é um labirinto de leis e recursos. Os subornos são mais sofisticados, disfarçados de consultorias ou patrocínios, e os acordos não são mais selados com apertos de mão, mas com contratos bem redigidos e advogados prontos para defender o indefensável.
​O que mudou, afinal, foi o palco. Antes era o salão de festas e a discrição. Hoje, a internet e a exposição pública. A máfia, a corrupção e a ostentação se adaptaram, mas o jogo continua. O peixe grande ainda engole o pequeno. E a humanidade, parece, continua a cair no mesmo conto, só que com uma nova trilha sonora e um roteiro mais tecnológico.


​Robson Fonseca
Fotojornalista, especialista em fotografia de posicionamento em Marketing, consultor de imagem.

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