Por Pedro Barlera Gaspar
A 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, marcada para a próxima semana, ocorrerá em meio a um cenário internacional conturbado, no qual as soluções multilaterais parecem cada vez mais distantes. Pela sexta vez, o Conselho de Segurança não conseguiu chegar a um consenso sobre uma resolução para o conflito entre Palestina e Israel. O impasse se agrava diante do reconhecimento tardio, pela própria ONU e por outras organizações internacionais, dos abusos cometidos contra a população civil. O voto recorrente dos Estados Unidos expõe não apenas a dificuldade em conduzir um diálogo, mas a falta de vontade política para iniciá-lo.
Na teoria, esses espaços deveriam servir à busca de soluções coletivas, ancoradas na diplomacia e no diálogo. Na prática, porém, o que se vê são potências defendendo interesses próprios e impondo decisões unilaterais, já que as próprias organizações internacionais carecem de mecanismos legais e políticos capazes de garantir a implementação de suas deliberações. Assim, a ONU — criada no pós-guerra como fórum para a resolução de problemas globais — transformou-se, ao longo dos anos, em uma instituição mais simbólica do que efetiva.
Não se pode ignorar o avanço da extrema direita em sua cruzada para descredibilizar o sistema internacional. Se algumas décadas atrás a direita — ainda que muitas vezes apenas no discurso — enxergava o multilateralismo como uma ferramenta para administrar a globalização e o neoliberalismo, hoje a hostilidade é aberta e ruidosa. O discurso ultranacionalista de líderes como Trump, Milei, Orbán, Krah, Bardella, Meloni e tantos outros não se limita ao anti-pluralismo: ele ataca de frente a cooperação internacional e alimenta uma política baseada no isolamento e na rejeição ao diálogo.
Donald Trump, por exemplo, deixou claro seu desprezo pela diplomacia ao lançar uma guerra tarifária conduzida quase de forma autocrática, sem preocupação com as consequências globais ou com os próprios aliados. Sua postura revela não apenas ceticismo, mas um projeto deliberado de impor ao mundo a sua vontade — um gesto de força que desestabiliza instituições e corrói a já frágil confiança na ordem internacional.
Diante desse cenário, a pergunta que se impõe é inevitável: a diplomacia está morrendo? Os sinais são alarmantes. Além das investidas de Trump, assistimos ao endurecimento das políticas migratórias na Europa e ao prolongamento do conflito na Ucrânia, onde sucessivas reuniões e tentativas de acordo terminam invariavelmente em fracasso e no agravamento das tensões.
Resta saber se ainda há espaço para o diálogo ou se estamos caminhando para um mundo cada vez mais autocrático, em que decisões são tomadas de forma unilateral, sem consideração pelas consequências globais. A resposta a essa questão não é apenas retórica: dela depende se seguiremos rumo a um futuro minimamente estável ou a um abismo de caos e desordem internacional.
