Por Pedro Barlera Gaspar
Com pouco menos de um ano para as eleições presidenciais, o Brasil caminha para mais uma disputa polarizada. A direita, no entanto, mantém um passo desordenado e marcado por disputas internas, movimento que no jogo político pode levá-la ao seu próprio xeque-mate.
A condenação de Jair Bolsonaro, líder incontestável da direita, não surpreendeu, mas sacudiu o tabuleiro político. A inelegibilidade já era prevista, mas numa tentativa de se manter no jogo, o ex-presidente resistiu em abrir mão da candidatura. O resultado é um vácuo de liderança: o bastão não foi passado e a direita não consegue chegar a um consenso para um nome.
Michelle Bolsonaro surgiu como aposta inicial da cúpula bolsonarista: mulher, evangélica e com apelo simbólico. Mas a falta de experiência e o peso de uma disputa presidencial a deixaram em segundo plano, com chances maiores de concorrer ao Senado. A verdadeira batalha se trava entre Tarcísio de Freitas e Eduardo Bolsonaro. O governador paulista desponta como nome forte contra Lula, ancorado pelo apoio do empresariado e de governadores de direita. Já Eduardo insiste em herdar o espólio político do pai e não parece disposto a abrir mão desse posto, rechaçando publicamente a possível escolha de Tarcísio e colocando o eleitorado bolsonarista mais fervoroso ao seu lado.
Se meses atrás Lula via sua popularidade despencar com novas taxas e a alta dos alimentos, hoje colhe vantagens dos equívocos da oposição. O alinhamento de Eduardo Bolsonaro ao governo Trump e o apoio da direita às tarifas não agradaram a população, oferecendo ao presidente a oportunidade de se reposicionar. Com isso, Lula transformou fragilidade em trunfo, explorando a narrativa do ‘Brasil Soberano’ para recuperar força política e retomar a popularidade.
De um lado, Lula aposta em medidas de impacto social, como o ‘Gás do Povo’, que pode se transformar em um trunfo eleitoral. Do outro, a direita ainda gasta energia tentando reabilitar Jair Bolsonaro por meio de uma anistia. A hesitação às vésperas de 2026 lembra o erro do PT em 2018, quando a insistência em manter Lula como candidato até o último instante deixou pouco tempo para Haddad se consolidar perante o eleitorado.
