Clubes Brasileiros na Copa do Mundo da FIFA expõem domínio das casas de apostas no futebol

Levantamento aponta que mais da metade dos times classificados para o Mundial têm patrocínio de sites de apostas — incluindo todos os brasileiros. No Brasileirão, a presença dessas empresas é praticamente unânime. Especialistas alertam para riscos sociais, vício e falhas na legislação.

O futebol brasileiro vive uma nova era de investimentos — e de controvérsias. Com o andamento da Copa do Mundo de Clubes da FIFA 2025, nos Estados Unidos, um dado tem chamado atenção: dos 16 clubes classificados para as oitavas de final, mais da metade são patrocinados por Casas de Apostas, e entre eles, 45% são brasileiros.

Flamengo, Fluminense, Palmeiras e Botafogo, que garantiram vaga no novo formato da competição internacional, exibem em suas camisas marcas ligadas a sites de apostas esportivas. O mesmo ocorre com os clubes argentinos, já eliminados da competição, como Boca Juniors e River Plate, mostrando o domínio da indústria nas Américas.

No cenário nacional, a penetração é ainda maior: 18 dos 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro têm patrocínio máster de empresas do setor. Apenas o RB Bragantino e o Mirassol não possuem este tipo de parcerias.

O próprio campeonato carrega o nome de uma plataforma de apostas esportivas, revelando uma dependência financeira que, ao mesmo tempo que injeta milhões nos cofres dos clubes, levanta questionamentos sobre os limites éticos dessa relação.

A explosão dos sites de apostas no Brasil ocorre após a legalização do setor em 2018, com a Lei 13.756. Desde então, o número de patrocinadores e influenciadores ligados a essas empresas disparou — ao mesmo tempo em que os alertas sobre ludopatia, lavagem de dinheiro e manipulação de resultados aumentaram.

Em 2023 e 2024, diversas operações da Polícia Federal e do Ministério Público revelaram esquemas de fraude em resultados de partidas e lavagem de dinheiro por meio de apostas. A “Operação Penalidade Máxima”, por exemplo, envolveu atletas, empresários e apostadores em esquemas milionários que manipularam jogos das Séries A, B e campeonatos estaduais.

Já a “Operação Integration”, da PF, identificou um esquema internacional de lavagem de dinheiro estimado em mais de R$ 3 bilhões, com vínculos a celebridades e influenciadores digitais.

Em 2024, o Senado instaurou a CPI das Apostas (CPI das Bets). O colegiado teve como objetivo investigar o avanço descontrolado do setor, principalmente nas redes sociais. Durante os depoimentos, a comissão ouviu celebridades que promovem apostas em seus perfis, muitas vezes com linguagem sedutora e voltada a jovens.

A influenciadora Virgínia Fonseca, por exemplo, admitiu não conhecer cláusulas contratuais que a ligavam a ganhos sobre as perdas dos apostadores. A revelação de que influenciadores recebiam até 30% do valor perdido por seus seguidores causou revolta entre parlamentares e especialistas em saúde pública.

Apesar da repercussão, a CPI foi encerrada sem indiciamentos e com seu relatório final rejeitado, aumentando o sentimento de impunidade em torno do setor. Diante da pressão popular e das evidências de abusos, o Senado aprovou recentemente o Projeto de Lei 2.985/2023, que proíbe propagandas de apostas com artistas, atletas, influenciadores digitais e autoridades públicas. Também foi determinado que toda publicidade traga advertências explícitas sobre os riscos do vício em jogos.

Além disso, especialistas apontam que as restrições podem empurrar apostadores para o mercado clandestino — o que ainda representa quase metade das transações no país.

O vício em jogos de apostas, conhecido como ludopatia, já é classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um transtorno de saúde mental. No Brasil, esse tema ainda é pouco debatido, e a rede pública de saúde não está estruturada para tratar os casos em larga escala. A facilidade de acesso via aplicativos, a gamificação das plataformas e o apelo emocional das propagandas aumentam a vulnerabilidade, principalmente entre adolescentes e trabalhadores de baixa renda.

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