A Globo apostou alto em Dona de Mim, uma novela que reúne ingredientes de respeito: texto consistente, direção sensível e elenco sólido. A produção tem, sim, méritos — e não são poucos. A narrativa explora temas contemporâneos com profundidade, evita o óbvio e apresenta uma protagonista complexa e cheia de nuances, algo raro nas novelas do horário das 21h. Mas, mesmo com tudo isso, a trama não emplacou.
Os índices de audiência estão aquém do esperado, especialmente para uma emissora que há décadas domina o horário nobre com folga. O impacto cultural que se espera de uma novela das nove — os memes, os bordões, as discussões nas redes e nas mesas de bar — simplesmente não aconteceu com Dona de Mim. A novela parece boa demais para ser ignorada, mas fria demais para ser abraçada.
Esse distanciamento do público revela algo maior: há uma desconexão entre o que a Globo quer entregar e o que o público quer consumir. Não se trata de baixar o nível ou simplificar histórias, mas talvez de entender melhor os tempos atuais — em que o público é exigente, disperso e sedento por emoção imediata. Dona de Mim é sofisticada, mas falta-lhe um coração que bata forte no peito da audiência.
O alerta está aceso. A Globo já vinha enfrentando dificuldades com a fidelização do público em suas novelas recentes. Agora, com Dona de Mim, essa tendência ganha força. É um momento de repensar formatos, estratégias e até mesmo o papel que a telenovela ocupa na grade e no imaginário brasileiro. O produto ainda tem valor, mas talvez precise de novas embalagens — e novas ousadias.
Porque qualidade é essencial, mas televisão ainda é, sobretudo, conexão.
