Por Marcos Brasil
O apresentador José Luiz Datena sempre foi sinônimo de audiência no universo do jornalismo popular — ou, pelo menos, assim se manteve por décadas na Band, onde sua presença era praticamente uma extensão da grade. Por isso, soa no mínimo estranho — para não dizer desconcertante — vê-lo agora no casting da RedeTV, uma emissora cuja própria relevância no mercado parece, há tempos, respirando por aparelhos.
Na coletiva que anunciou sua chegada, Datena não poupou alfinetadas: “Meu programa ainda não tem nome, vai ser Sem nome, com José Luis Datena”, disse, num tom meio irônico, meio desconfiado, que mais soou como um aviso de que nem ele, ao certo, sabe o que está fazendo ali. E quem pode culpá-lo? A RedeTV enfrenta uma crise crônica, marcada por baixíssima audiência, fuga de anunciantes e uma credibilidade que há muito deixou de ser levada a sério no cenário das grandes emissoras.
Se o histórico recente serve de termômetro, a breve — e fracassada — passagem de Datena pelo SBT já dava sinais de que qualquer deslocamento seu para fora da Band seria, no mínimo, turbulento. No SBT, poucos meses do Tá na Área foram mais que suficientes para que Datena decidisse sair da emissora, embora o mercado inteiro já soubesse que o DNA editorial da emissora simplesmente não conversava com o estilo direto, urgente e — por que não? — dramático de Datena.
Agora, na RedeTV, o problema é ainda mais complexo. Não se trata apenas de alinhamento editorial. É uma questão de estrutura, de relevância e, principalmente, de público. A pergunta que paira no ar é simples: existe, hoje, audiência suficiente na RedeTV que justifique o estilo de Datena? Ou, pior, existe alguma chance de Datena transformar uma emissora em crise crônica em um polo de informação com apelo popular?
A RedeTV até tenta se reinventar, mas vive presa no eterno ciclo de promessas não cumpridas, grades de programação recicladas e investimentos que parecem sempre menores do que as ambições anunciadas. Levar Datena para lá soa mais como uma jogada de desespero do que uma estratégia.
Ao dizer que seu programa não tem nome, Datena, na prática, verbaliza o que todos já percebem: falta rumo, falta clareza, falta identidade. E talvez nem seja culpa dele, que, por mais controverso que seja, é um profissional que conhece como poucos o que gera audiência e impacto.
Mas, convenhamos, nem todo peixe sobrevive fora d’água. E, até aqui, a RedeTV continua sendo um aquário vazio, sem peixes, sem mar, sem público.
