Reajuste Salarial aprovado gera revolta e protestos em Rio Grande da Serra

Por Marcos Brasil

A manhã desta segunda-feira (19) começou com incerteza para as famílias de Rio Grande da Serra. Em meio à votação do reajuste salarial dos servidores municipais, parte das professoras e funcionários da rede pública aderiram a uma paralisação para acompanhar a votação, o que causou o fechamento de algumas escolas.

“Alguns professores não vieram trabalhar por conta do aumento de salário que eles estão exigindo. A gente não teve muita informação,” lamentou uma mãe na porta da EMEB Primeira Dama Zulmira Jardim Teixeira. Apesar do transtorno, muitas mães expressaram apoio à causa dos servidores, ainda que com ressalvas quanto à paralisação. “A gente tem que brigar pelo melhor, mas paralisar prejudica quem já tem a renda limitada, como nós que dependemos de bicos,” comentou outra.

A mobilização teve como foco a sessão da Câmara Municipal, onde os vereadores aprovaram, por 13 votos favoráveis, o reajuste salarial proposto pelo Executivo: 2% agora e mais 2% em novembro. A proposta de um reajuste maior — de 4% agora e 4% em novembro — chegou a ser apresentada por vereadores da oposição, como Claudinho Monteiro, Bibinho, Marcos Costa (Tico) e Marcelo Cabeleireiro, mas foi rejeitada.

A sessão foi marcada por protestos dos servidores, que lotaram o plenário e alegaram não ter sido ouvidos. Além do reajuste, os trabalhadores cobravam o cumprimento de 19 outras pautas já protocoladas junto à Prefeitura, incluindo denúncias de não pagamento de horas extras, licenças-prêmio atrasadas e o congelamento da promoção horizontal para ADIs e profissionais da Educação.

Uma das ADIs (Auxiliares de Desenvolvimento Infantil), emocionada, relatou o sentimento de desvalorização: “Foi uma humilhação, nos sentimos humilhadas. Um salário baixo, o menor do ABC, ainda com um aumento desse… inacreditável.” Outra auxiliar reafirmou após a votação:  “ADI aqui em Rio Grande da Serra é como se a gente não fosse nada, sabe? Não tem valor, não tem nada.”

Outros servidores trouxeram a hipótese de realizar greve, caso nenhuma medida seja atendida: “Nenhum funcionário está de acordo, tanto é que todos viemos para a Prefeitura por conta disso, não fomos ouvidos, e caso seja necessário, os servidores estão dispostos sim a fazer greve”, completou a Servidora da Secretaria de Educação que preferiu não ter o nome divulgado.

O Vereador Leonardo Alves informou que embora se trate do mesmo projeto, foi necessário o adiamento: ” A grande reivindicação do sindicato é que, além dos 4% que iria ser votado na semana passada, havia mais 20 reivindicações que o prefeito da cidade, juntamente com os vereadores, toda a equipe, não tinham ouvido eles ainda. Por isso, até que a gente passou de quarta para segunda-feira, para a gente conseguir fazer a votação e conseguir escutar as 20 reivindicações deles.”


Já o vereador Marcelo Cabeleireiro lembrou que o valor é inferior ao entregue pela gestão passada: O governo passado deu 6% durante o dissídio dos funcionários, né? Agora eles estão querendo dar 2 de 2, 2% e mais 2% tendo em vista que o outro foi 3 e depois mais 3, essa é a nossa preocupação de fazer algo que seja bom para os servidores.” E alegou uma divisão dentro da Câmara, o que segundo Marcelo, dificulta o trabalho: “Hoje tem uma situação de divisão, não pelo governo, mas sim pelos próprios legisladores. Tem nove vereadores que excluem a gente desse tipo de conversa. E isso é inaceitável, porque foi eleito pelo povo 13 vereadores e não nove.”

Além disso, enfermeiros reivindicam a regulamentação de uma jornada de 30 horas semanais e o pagamento de 40% de adicional de insalubridade, que segundo eles, é devido pela exposição constante a riscos.

Após a votação, servidores se dirigiram à Prefeitura, onde uma comissão representando diversos setores — Educação, Enfermagem, Farmácia, Saúde e Vigilância — foi recebida por representantes da gestão municipal, entre eles a vice-prefeita Wilma Marcelino representando o Prefeito Akira Auriani, ausente das discussões. A reunião contou com a presença dos vereadores Marcos Costa, Claudinho Monteiro, Bibinho e Marcelo Cabeleireiro.

A Prefeitura, representada pela vice-prefeita, informou que o reajuste aprovado será mantido e que as outras 19 pautas estão em processo de negociação, com prazo de até 30 dias para encaminhamentos — conforme solicitado pelo secretário municipal de Administração.

O vereador Marcos Costa criticou o andamento das negociações: “O funcionário público não ficou feliz. Propomos uma discussão futura para outras áreas, inclusive uma reforma administrativa. A Prefeitura prometeu uma equipe técnica robusta, mas pediu 30 dias para responder às demais pautas. Isso é muito demorado.”

Claudinho Monteiro explicou a tentativa de abranger a discussão de forma a trazer a demanda da população para o projeto:“Isso é democracia. Espero que o governo tenha sensibilidade para tratar essa emenda com carinho. São pautas que afetam diretamente o funcionalismo público.”

Enquanto aguardam os desdobramentos, os servidores prometem manter a mobilização. O clima de insatisfação continua forte, e a cidade observa de perto os próximos passos de uma pauta que já mostrou ter impacto direto no dia a dia da população.

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