Adeus Globo velha, feliz “SBT Novo”: SBT recicla formatos globais e tenta renascer sob a batuta de Boninho

Por Marcos Brasil

O SBT vive mais um momento de reinvenção. E, como em outras vezes ao longo de sua trajetória, a palavra de ordem é ousadia — ainda que nem sempre acompanhada de originalidade. A chegada de Boninho à emissora, anunciada como uma grande virada de chave, revela uma estratégia curiosa: transformar o canal em uma espécie de “Globo vintage”, com formatos reaproveitados e velhos conhecidos do público.

O mais emblemático dos movimentos é o retorno do The Voice Brasil, que migra da Globo para o SBT com o mesmo apresentador que já comandou o programa na emissora carioca: Tiago Leifert. Para os que têm memória fresca, Leifert esteve à frente do reality musical entre 2017 e 2019, em temporadas que, embora competentes, já davam sinais de desgaste. A pergunta que paira é: por que o público voltaria a se empolgar com um formato que a própria Globo abandonou? Ainda mais com o mesmo rosto à frente? O risco de parecer um produto reciclado — e datado — é enorme.

Leifert, que também brilhou no Big Brother Brasil, parece agora reviver os tempos áureos de realities, mas com um script que cheira a mofo. É o tipo de aposta que pode soar confortável para o público nostálgico, mas dificilmente seduzirá os jovens ou os espectadores cansados do “mais do mesmo”.

Outro trunfo de Boninho é o “Casa do Patrão”, um reality de confinamento com DNA 100% SBTista. Previsto para estrear em 2025, o programa promete bater de frente com A Fazenda, da Record, e ressuscitar o tipo de audiência que o BBB perdeu nos últimos anos, quando bateu recordes negativos. A proposta é clara: recuperar a força do reality de convivência que fez o Brasil parar diante da TV — mas com o desafio de inovar em um gênero saturado e, ainda por cima, carente de autenticidade.

Essa tentativa de reposicionar o SBT como segunda força na TV aberta não é nova. Historicamente, a emissora já flertou com mudanças de grade e identidade diversas vezes: seja pela “TV Mais Feliz do Brasil”, ou mais recentemente pelas reformulações mesclando celebridades do mundo digital com um formato tradicional de Televisão. Nenhuma delas consolidou ainda uma virada duradoura.

Agora, com Boninho, o SBT tenta fazer aquilo que nem a Globo conseguiu nos últimos anos: reinventar formatos exaustos. Mas será suficiente? A nostalgia pode atrair os primeiros olhares, mas a televisão aberta precisa mais do que rostos conhecidos e formatos reciclados para se manter relevante. Precisa de ideias novas, de coragem editorial e, acima de tudo, de uma leitura honesta sobre o que o público quer assistir em 2025.

No fim das contas, a transformação do SBT em uma “Globo reciclada” pode ser um espelho do momento que vive a televisão brasileira: sem tempo para arriscar, mas com pressa para não morrer. E nessa corrida contra o esquecimento, quem aposta no passado pode tropeçar no futuro.

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