A mordaça da bola: quando a CBF cala a imprensa

Por Marcos Brasil

A segunda-feira foi dura para o jornalismo esportivo brasileiro — e preocupante para a liberdade de expressão. A ESPN, emissora respeitada justamente por seu espaço de análise crítica, decidiu suspender jornalistas do programa Linha de Passe após comentários contundentes sobre a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O motivo? Terem feito o que se espera de bons jornalistas: repercutir uma reportagem séria da Revista Piauí, que trouxe à tona informações delicadas e relevantes sobre os bastidores da entidade máxima do nosso futebol.

O episódio beira o escândalo e precisa ser encarado como tal. Fontes dos bastidores indicam que a suspensão dos comentaristas teria sido motivada por um pedido direto da CBF. Se confirmado, é um retrato nítido de censura — e um sintoma grave do poder desmedido que a Confederação ainda exerce sobre a cobertura esportiva no país.

A decisão da ESPN é duplamente lamentável: cede à pressão política de uma entidade que deveria ser transparente, e ainda lança uma sombra sobre a independência editorial de seus profissionais. Os jornalistas do Linha de Passe não cometeram nenhum deslize ético; pelo contrário, exerceram com coragem e competência o seu papel de questionar e informar, mesmo diante de possíveis represálias.

A imprensa esportiva brasileira não pode aceitar calada esse tipo de interferência. O silêncio, nesse caso, seria conivência. O futebol, paixão nacional e patrimônio cultural, não pode ser blindado de críticas ou investigações — especialmente quando há indícios de má gestão, favorecimentos e autoritarismo institucional.

Não se trata apenas da ESPN, nem só dos jornalistas suspensos. Trata-se de uma luta maior, pela liberdade de imprensa e pela responsabilidade das instituições. A CBF não está acima do questionamento público. E se hoje jornalistas são silenciados por dizerem a verdade, amanhã pode ser a sociedade como um todo a pagar o preço da omissão.

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