frio.

eu não gosto do frio. ainda que seja estranho dado que passei a maior parte da minha vida preferindo-o ao calor. mas hoje penso nas pessoas em situação de rua, nos animais sem um abrigo. mas isso tudo soa meio estranho, já que penso nisso enquanto olho para a lareira. eu gosto de lareiras. sempre gostei, desde que me lembro. ficava horas na frente da lareira da casa dos meus pais. sempre tive um sentimento de aconchego quando estou próximo a uma.

fico vidrado olhando o fogo, escutando o crepitar da lenha que estala alto e solta fagulhas como se estivesse brava com alguma coisa. e isso de alguma forma me traz paz e me coloca pra pensar em muitas coisas. ainda que eu não goste do frio, eu sinto alguma coisa com o fogo. o calor da lareira me hipnotiza.

meus pés ficam gelados e parece que nada, além do fogo, é capaz de aquecê-los dignamente. não há meias suficientes ou cobertores. e isso gela todo o meu corpo, independente do peso de blusas e jaquetas sobre mim. outro ponto negativo. muita roupa atrapalha não só meus movimentos, mas até meus pensamentos. e ainda assim, sigo hipnotizado e aquecido pela lareira.

queria eu poder aquecer o mundo, muito além do aquecimento global. aquecer os dias frios e as criaturas descobertas. isso me deixa aflito, sempre que a temperatura cai. há algo um pouco deprimente no frio.

se um dia eu me tornar um elemento, que eu seja o fogo. rápido, devastador, imponente. que eu seja o calor e nunca o frio. e que meus pensamentos continuem virando palavras. não para queimar a pele, mas para aquecer a mente e o coração de quem me lê. se um dia eu me tornar alguma coisa, que eu seja um cobertor em um dia frio. que eu seja a lareira da sua casa. se eu fosse alguma coisa, queria ser um livro quente.

Enrico Pierro Escritor

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