Confisco dos aposentados: a herança de Doria que atrapalha Garcia nas redes sociais

Mais de 90% das menções negativas ao tucano vêm de servidores cobrando o fim do desconto de até 16% em seus benefícios.

Brasil de Fato – A campanha digital do governador Rodrigo Garcia (PSDB) à reeleição enfrenta um forte adversário: servidores públicos aposentados e pensionistas. Prejudicados pela criação de uma contribuição de até 16% sobre os benefícios que recebem, eles formam um grupo mobilizado em torno da tarefa de cobrar do governador o fim desse “confisco” iniciado por João Doria e que Garcia até agora não reviu. 

Trata-se do Decreto 65.201, editado pelo então governador João Doria em junho de 2020, que impôs uma contribuição de até 16% sobre os valores recebidos por aposentados e pensionistas acima de um salário mínimo – hoje, R$ 1.212. 

Ela foi o primeiro ataque de Doria aos servidores, aumentando a idade para aposentadoria e as alíquotas descontadas dos funcionários para valores entre 11% e 16%, de acordo com a faixa salarial. 

A reforma também criou um que permite o desconto sobre aposentados e pensionistas caso o governo se declare em déficit atuarial. Esse foi o caminho usado pelo governador no decreto 65.201.

Até então, aposentados e pensionistas só contribuíam na parte de seus benefícios acima do teto Regime Geral de Previdência Social, hoje em R$ 7.087,22. Com o decreto, a contribuição passou a incidir sobre os valores acima do salário mínimo, R$ 1.212.  

As alíquotas também são progressivas: 12% para quem recebe de um salário mínimo até R$ 3.000,00; 14% para quem ganha de R$ 3.000,01 até R$ 6.101,06; e 16% para valores acima de R$6.101,06 – incluindo os aposentados e pensionistas que possuem doenças incapacitantes.

Ataque sistemático

“O funcionário público do estado de São Paulo odeia o Doria por causa disso”, avalia a cientista política Maria Teresa Miceli Kerbauy, professora da Unesp em Bauru e co-organizadora do livro Política em São Paulo. Uma análise da dinâmica político-partidária no estado

As redes sociais confirmam essa impressão. De acordo com o analista de redes sociais Pedro Barciela, o tema é de longe o foco mais negativo para Garcia, que já conta com limitações em sua presença digital.

Análise realizada nesta quinta-feira (1) sobre postagens nas redes sociais mostram o tamanho do problema. O confisco da aposentadoria foi tema de 92% das menções negativas em relação a Garcia, que teve um dia bastante ruim em geral: 93% das menções ao candidato foram negativas, contra apenas 7% de comentários positivos.

Em comparação, Fernando Haddad teve 42% de menções negativas, 28% de positivas e 30% de neutras. Já Tarcísio de Freitas recebeu apenas 11% de comentários negativos e 82% de positivos. 

“Não vejo nenhum tema com efeito negativo similar para Haddad nem para Tarcísio. Até porque é uma pauta que é muito cara aos aposentados e justamente pelo PSDB estar a tanto tempo quanto está no governo de São Paulo”, avalia Barciela. 

Segundo ele, os aposentados chamam a atenção “pela mobilização desse campo, muito unido, aglutinado ao redor dessa pauta”, realizando um “ataque sistemático” contra o governador.

“Ele [Garcia] não conta com o apoio massivo de nenhum dos grandes agrupamentos das redes sociais. Ele tende a se afastar do Doria, que seria o cabo eleitoral dele. Com isso, de certa forma ele tenta se blindar do ataque à imagem de Doria, mas outro ponto é que ele não conta com o apoio massivo de nenhuma frente vinda de um cabo eleitoral de peso”, explica. 

“Quando recebe esse ataque tão sistemático dos aposentados, ele acaba por ficar ainda mais limitado a um tema, sem ter uma resposta que não seja a oficial. Então, se não vem da [campanha] oficial, esse movimento de ataque contra a campanha de Rodrigo Garcia acaba por não ter nenhuma resposta.” 

Obrigação

O tema foi trazido para a campanha eleitoral pelo petista Fernando Haddad. “Considero o que o [ex-governador] João Doria fez um confisco, aumentou impostos de todo mundo”, disse em sabatina realizada pelos jornais Valor e O Globo e pela rádio CBN, em 17 de agosto. “Reconheço que houve um confisco por decreto. No dia 2 de janeiro, vamos abrir a mesa, sentar com os servidores e restabelecer isso.” 

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